domingo, 19 de janeiro de 2014

domingo

Ser paciente na desventura.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Sounds of Innocence + zolpidem

O que escrevi ano passado sobre o cd Sounds of Innocence do Kiko, quando o ouvi pela primeira vez, e depois de ter tomado o hipnótico.


1-      Acordo no ocaso

2-      chovem pedras caem em fusas sincopadas. a guitarra, nos solos tenta se desenterrar das pedras

3-      Então encontrei a paz mas ela foi partida por um tiro (0:41), pessoas correm para lados aleatórios gritando, uma frase brinca com a outra, uma vence. Então há nova suposta paz mas uma ditadura tensa da vencedora, agora vilã. Enquanto isso ergue-se seu castelo cinegraficamente 3:49 , o solo volta rindo sua risada imperial (04:09) e depois dita as leis cercado por seu exército de riffs powerchordicos.

4-      Soluço, beber muita água 0:10, soluço, uma pessoa reclamando do soluço ouvir de ponta cabeça um computador mais sede e cuspir a água

5-      Armadilha. serpente dançando ou avançando rápido. Eles brigam, o caçador, que é o solo, e a serpente, e a bateria/ 3:20 a serpente fala na língua dela, mas em 3:40 o caçador a arremata forte e orgulhoso. agora com a serpente morta enrolada em seu pescoço e assim vai descansar.

6-      Alguns bends incomodam o refrão albinonístico me dá paz barroca. Essa alegria triste ainda vira samba triste. Tenta ter paz mas é uma paz triste, coitado, os bends balançando alguns voltam pro mesmo lugar outros gritam. 3:50 Ele diz “Então tá, a felicidade é isso”.

7-      Dentro de uma indústria, ouço as máquinas a pressa, a urgência tirânica dos agudos mandantes, todos obedecem sincronizados. Isso funciona. Depois só a fumacinha saindo do tubo da fábrica.

8-      Teimosia vício, essa obcessão em dar os mesmos passos, é preciso pensar para onde você está 01:29-01:35 indo, indo, indo. O tempo todo essa necessidade de ter uma âncora, porto seguro, os pés na areia estão enterrados, você pensa nas possibilidades frustradas mas não quer desenterrar os pés. Enterra-os ainda mais em ato de teimosia. Indígenas aplaudem, isso foi um ritual.

9-      Esses bends que me levam pro mesmo lugar, tudo parece só um pensamento, de satisfação, trilha sonora da conquista. Questionamento de mérito, inseguro então, mas se defende: tem mérito. Volta mais radiante ainda pulando cordas nos dois sentidos.

10-   Agora que chegamos tão longe eu não sei o que fazer. O fim é uma opção. Agora que nada é como antes, como continuar, se agora tem tudo isso pequenas notas agudas. Agora que o chão de piano treme 1:51 sobre nossos pés como continuar 2:14 com esperanças desesperadas 2:36 que falham, 2:42 que falham que falham toda vez 2:57


Vivian, 19/06/2012

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

7 anos atrás eu recebia a maior bênção e a maior danação

Eis o surgimento da coisa. Este texto é de 21 de dezembro de 2006 e pode ser encontrado em www.undertow.blogger.com.br. De quando senti que vinha isso. E tudo aquilo que veio mesmo. E desde então... mas agora...

Vômito 

Perigo. Uma mudança de obsessões tão rápida que me faz concluir que preciso, de fato, sofrer e ainda deixar o coração acusar alguém, cuja imagem elevo a um patamar utópico capaz de decidir meus dias pelo sorriso ou pelas lágrimas - estas, de certo, mais freqüentes, uma vez que esse sentimento onipotente de mim não pode ser correspondido por um simples e único motivo: não é. Não ser retira todas as possibilidades de o sonho mudar de plano, sendo ele sonho, por natureza - ao mesmo tempo há uma mistura de esperança com conformismo: aconchego-me a gostar e chego a gostar de gostar, ainda que saiba ser sonho e sempre sonho, e com isso eu acho que talvez haja a possibilidade de eventualmente eu poder conseguir lidar, após toda essa enrolação insegura de palavras; mas digo isso por me julgar já sabida em manter o sonho no plano do sonho querendo e não podendo mudá-lo por simplesmente ser (sonho) por natureza. Tão natural como perigoso, tão instintivo quanto ficar próxima ao perigo de propósito, sendo eu tão paradoxalmente frágil - de uma fragilidade felizmente estática, pois, se dinamizada, o perigo chega tão perto que me absorve, ou por mim é absorvido, ou nos absorvemos mutuamente e nos fundimos numa coisa só que me torna a agressora e a agredida, a vítima da própria culpa - mas, sendo eu estaticamente frágil, pareço gostar do perigo e querer chegar ao instante da quase-absorção-mútua, ao limite entre a gota que se segura, e a que se desprende. (Respiro). Abro meu peito, entrego-lhe o coração, mas Lhe não o quer e o coração pulou para o chão num ato suicida inconseqüente e até involuntário já que caiu porque bateu forte demais sem algum abraço que o segurasse forte, apertasse forte, não a ponto de sufocar pois ainda respiro, mas carinhosamente forte do jeito que só aquele cujos braços poderiam me segurar me segurariam, se o quisessem, se o sonho não fosse por natureza sonho. No entanto, essa imagem do meu coração pulando independentemente vivo me parece nojenta - e eu nem a enxergo com os olhos para acusá-la de minha náusea diária ou justificar meu desconforto de ter uma esperança mínima que seja e dó da minha própria solidão de um ele só. 
Poucas horas de sua ausência e há ainda um mês de coma. 
"Fica tranqüila." 

Vivi - 1:16 AM - 21 de dezembro de 2006

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Ruína

Sonho que flutuo sobre as ruínas do que seria a catedral de Notre Dame, praticamente irreconhecível, não fossem as bases das duas torres. Em seguida, vou a um pub onde pessoas amigas passam mão a mão uma tocha em forma de trapézio, com pequenas janelas de onde também saía fogo. Tenho medo de que elas se queimem, contudo parecem despreocupadas. Com indiferença, ou excesso de segurança, talvez representando uma inconsequência frente a um perigo iminente, sem medo da catástrofe, ou até com um desprezo do desastre, aparente superação da ruína.

sábado, 6 de outubro de 2012

Outra dimensão


Sábado, 7h53

Um casal de mendigos parados no meio da rua, abraçados pelo pescoço.

Vestes escuras, mas não negras. Azul-marinho. Na frente dele está

um carrinho de supermercado com talvez

dez objetos pequenos. Ele não segura o carrinho, eles estão abraçados

até o pescoço,

expressão sofrida. Enlace longo, coisa séria.

Permanecem imóveis, sem intenções de se soltarem

até sumirem do meu retrovisor - a rua era comprida. De longe,

ele, ela, o carrinho

eram uma coisa só: a mais sagrada.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ostra

Uma ostra desperolada disforme: se ela está viva, contorce-se milimetricamente quando pingam o limão nela: cada gota uma dor agonizante: suas partes corroídas cozinhando. O limão é a realidade. Quando a ostra abre a casca ou quando a invadem, ela está vulnerável ao limão: cairá sobre ela como chuva apocalíptica: justo ela, a ostra eremita que tentava, em sua solidão bruta e primitiva, formar secretamente e isolada do mundo uma pérola.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Amar(elo)

Eu, que já achei conforto no eremitério do ovo. A solidão tem um quê de segurança, como a casca tem um quê de proteção. Só um quê. De claustrofóbico também, eu, que já achei o ato máximo de revolução a gema quebrar o ovo, assim pra cima pulando. Confiante, rainha, como se pudesse voltar, porque depois a gema cai e, se tiver sorte (ou azar), não rompe sua própria membraninha, que às vezes ela acha que seria o suficiente contra o mundo - não é. Nem pode voltar pro ovo (como colar a casca), mas na cabeça da gema subversiva isso pode, só porque esse poder-em-mãos abre fresta pra uma esperança platônica. Não pode, nem a gema é independente do ovo, é tudo um negócio só: mas a gema é coração. O ovo teme/sonha implodir-se, de tudo que guarda dentro de si. Eu, que acho também desconforto no ovo, já achei que o ovo tinha que se quebrar, ele mesmo sozinho, de dentro pra fora. Que se ele tem que se partir, que seja ato próprio, cansado de ter uma gema pulsando sentimentos. Mas ao mesmo tempo ouço o barulho da casca batendo na quina da pia e temo o óleo estalante. Temo mesmo a quina da pia. E como que eu resolvesse deixar o ovo em paz no ninho (ele não sabe que já passou do tempo de virar passarinho), de fora não se perceberá, mas na verdade talvez ainda eu, que segurei o ovo antes com as duas mãos juntas na altura do peito, me perdi em desespero e num átimo de destruição peguei o ovo com uma mão só, firme e cruel e chacoalhei tanto, não com raiva mas com pêsame: até que a tal membraninha da gema se rompesse dentro da casca, sem que ninguém visse. De fora é só um ovo ainda intacto. De dentro, enxofre.



"I have to claim I'm innocent" - Beyond the mirror, Pain of Salvation